segunda-feira, 21 de março de 2011

Homenagem ao escritor Moacyr Scliar

Vou-me embora desta casa! (Moacyr Scliar)
Aqui está nossa homenagem ao escritor Moacyr Scliar que faleceu no dia 28/02/2011. Uma perda irreparável de uns maiores cronistas da Literatura Brasileira.


VOU-ME EMBORA DESTA CASA!

Existe alguma coisa pior do que ter quatro anos e brigar com o pai?

(Existe: é ser pai e brigar com o filho de quatro anos. Mas isto a criança só descobre depois de muitos anos.

Para um garoto de quatro anos, brigar com o pai, ou com a mãe, significa romper com o mundo. Uma ruptura aliás freqüente, porque há poucas coisas que um guri goste mais de fazer do que brigar. Ele briga porque quer comer e porque não quer comer; porque quer se vestir ou porque não quer se vestir; e porque não quer tomar banho, não quer dormir, não quer juntar as coisas que deixou espalhadas pelo chão. E porque quer uma lancha com pilhas, e uma bicicleta, e uma nave espacial de verdade. Todas estas coisas geram bate-boca, ao final do qual o garoto diz, ultrajado:

Ah, é? Pois então...

Pois então o quê? Um país pode ameaçar outro com mísseis, ou com marines, ou com bloqueio; um adulto diz que vai quebrar a cara do inimigo; mas, um garoto, pode ameaçar com quê? Com o único trunfo que eles têm:

Eu vou-me embora desta casa!

Ao que, invariavelmente, os pais respondem: vai, vai de uma vez. Ué, mas não seria o caso deles suplicarem, não meu filho, não vai, não abandona teus velhos pais? Meio incrédulo, o guri repete:

Olha que eu vou, hein?

Vai, é a dura resposta. E aí o menino não tem outro jeito: para salvar sua honra (e como têm honra, os garotos de quatro anos!) ele tem de partir. Começa arrumando a mala: numa sacola de plástico, ele coloca os objetos mais necessários: um revólver de plástico, os homenzinhos do Playmobil (aos quatros anos, o Kit de sobrevivência é notavelmente restrito).

Enquanto isto, os pais estão jantando, ou vendo TV, aparentemente indiferentes ao grande passo que vai ser dado. O que só reforça a disposição do filho pródigo em potencial: esses aí não me merecem, eu vou-me embora mesmo.

Mas, para onde? para onde, José? Manuel Bandeira podia ir para Pasárgada, onde era amigo do rei; aos quatro anos, contudo, a relação com a realeza é muito remota. O guri abre a porta da rua (essas coisas
são mais dramáticas em casa do que em apartamentos); olha para fora; está escuro, está frio, chove. Ele hesita; está agora em território de ninguém, tão diminuto quanto o é a sua independência. Ir ou não ir? Nem Hamlet viveu dilema tão cruel. Lá de dentro vem um grito:

Fecha essa porta que está frio!

Esta é a linha dura (pai ou mãe). Mas sempre há um mediador - pai ou mãe que negocia um recuo honroso:

Está bem, vem para dentro. Vamos esquecer tudo!

O garoto resiste, com toda a bravura que ainda lhe resta. Por fim, ele volta, mas sob condições: quando o pai for ao Centro, ele trará um trem elétrico, desde que não seja muito caro, naturalmente. A paz enfim alcançada, o garoto volta para dentro. Até a próxima briga. Quando, então:

Eu vou-me embora desta casa!

Relato do livro: O Diário de Nina.

Trata-se do "Diário de uma estudante", como diz o subtítulo. Já o título é "quero viver". Uma mocinha de modesto nível social, que começou a registrar seus pensamentos aos 13 anos; cinco anos depois, sua prisão interrompeu o diário, que a polícia descobriu e usou para incriminá-la, que destacou os trechos mais "criminosos", sob o ponto de vista do regime soviético, e constou como a prova de sua culpa de anti-soviético, razão pela qual foi condenada e deportada junto com a sua família (seu pai já estava preso).
Na verdade os investigadores podiam ter encontrado mais coisas no seu diário, mas sua mãe a convenceu a destruir os parágrafos mais comprometedores, além disso, Nina, também escreve sobre suas relações com os amigos e seus sentimentos mais profundos. Seu pai já estava preso, por também ser um anti-soviético.

(relato feito pela aluna Thaís Caroline da Silva, 1ºB)

Bem vindo ao Blog da Sala de Leitura Santa Albertina.

Esse blog tem por finalidade envolver os alunos leitores da Sala de Leitura da E.E.Carlos Celso Lenarduzzi e postar seus comentários, sugestões e críticas de obras lidas. Boa leitura!!!